Reportagem especial: Udirley Andrade
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Criação de galinhas caipira é uma das atividades em Juruti Velho |
Juruti Velho, a cerca de 03 horas de barco do
porto de Juruti, Oeste do Pará, é uma região composta por 51 comunidades, onde
vivem aproximadamente 9 mil pessoas. Tem atraído a atenção de turistas de
várias partes do Brasil e do exterior por suas belezas naturais, que mostram o
potencial turístico que a região oferece. As águas escuras que banham Juruti
Velho revelam grande atrativo no período de setembro a fevereiro: belas praias
de areia branca e de água cristalina, que podem ser encontradas com facilidade
em quase todas as comunidades que formam a região. Mas tanta beleza esconde uma
triste realidade: capturar o peixe para a alimentação do dia a dia dos
comunitários não é nada fácil. A escassez do produto tem levando muitos moradores
a investir em outras atividades, como a criação de peixe em gaiola flutuante e
a criação de galinha. A iniciativa faz parte de um projeto criado pela Associação das Comunidades da Região de Juruti Velho.
Há dois anos, a rotina de
dona Ester de Matos Pereira, que mora na comunidade Monte Moriá, tem sido a
mesma: acordar cedo, preparar o café para o marido e cuidar das galinhas que
cria no quintal. A criação de aves foi alternativa encontrada por ela para
conseguir um dinheiro a mais, haja vista que a produção de derivados da
mandioca, como a farinha e o beiju, não estava sendo suficiente para gerar a
renda necessária para a manutenção da família e da pequena propriedade, que
fica às margens do lago Juruti Velho.
O
casal recebe frequentemente a vista de pessoas de várias partes do município de
Juruti, interessadas nas galinhas criadas por dona Ester. Segundo ela, a
criação dá muito trabalho, mas os resultados são satisfatórios. Em 2012, dona
Ester recebeu da Associação das Comunidades da Região de Juruti Velho uma importante contribuição que fortaleceu ainda mais a atividade. Com
recursos oriundos da associação, ela construiu um novo galinheiro e recebeu 50
pintos. Dona Ester explica que depois de 03 meses as aves estão no ponto de
abate. Cada frango é vendido a um preço que varia de R$ 20,00 a R$ 25,00.
Alguns chegam a pesar cerca de 02 quilos.
Nos
próximos meses, o casal de comunitários pretende preparar um local especial
para investir na produção de ovos. Hoje,
dona Ester cuida de aproximadamente 100 aves, que estão no pronto de ser
comercializadas. As galinhas são alimentadas duas vezes ao dia, pela manhã e
tarde. Diariamente, são necessários 15 quilos de ração ou de milho para
alimentá-las. Enquanto
dona Ester cuida das aves, o esposo dela, seu José, trabalha na produção de
mudas de espécies nobres, como o Cumaru. As mudas produzidas por ele são usadas
no reflorestamento do local onde moram. O casal ainda cultiva árvores
frutíferas que, em breve, estarão produzindo e gerando mais uma alternativa de
renda.
Hoje,
25 comunitários de Juruti Velho estão investindo na criação de galinha. E esse
número deve aumentar, pois outros moradores estão mostrando interesse em
desenvolver a atividade, que tem se apresentado como uma boa fonte de renda. Além
da criação de galinha, alguns produtores também apostam na produção de
hortaliças e na criação de peixe em gaiola flutuante.
A proposta de criação de
peixe em gaiola surgiu no ano passado. Em 2012, alguns moradores de Juruti
Velho participaram de treinamento e receberam orientações para desenvolver a
atividade. Na oportunidade, os
comunitários ficaram entusiasmados e apostaram na ideia. Em janeiro de 2013,
trinta e duas pessoas começaram a colocar em prática os conhecimentos
adquiridos e, com o apoio da ACORJUVE, estão criando peixes da espécie tambaqui,
em gaiolas colocadas no lago Juruti Velho.
As gaiolas são construídas
em madeira, encontrada na própria região, e forradas com uma espécie de tela.
Recipientes de plástico fixados nas bordas das gaiolas garantem a flutuação.
“Apresentamos aos comunitários um material acessível. Tanto a madeira quanto os
recipientes plásticos podem ser encontrados com facilidades, a baixo custo”,
destaca a técnica Sara Xavier de Oliveira,
que presta assistência aos criadores de peixe.
Na
comunidade Capitão, por exemplo, a criação de peixe em gaiola é desenvolvida
por dois produtores. Seu Antonio Carlos da Silva Magalhães é um deles. Há pouco
mais de dois meses deu início à atividade. Numa pequena gaiola, o comunitário
colocou 1000 alevinos de tambaqui, dos quais 500 foram doados pela Associação
das Comunidades da Região de Juruti Velho, que também vai fornecer a
alimentação dos peixes até eles completarem 11 meses, ocasião em que estarão
aptos para a comercialização. Enquanto aguarda, seu Antonio tem se dedicado ao
plantio da mandioca para a produção de farinha e de outros derivados, bem como
à plantação de hortaliças, para o consumo próprio.
Cada
gaiola mede pouco mais de 7m³ e é suficiente para manter os 1.000 alevinos confortáveis
durante os primeiros 04 meses. Depois, há a necessidade de mais gaiolas para
dividir a quantidade de peixes. Com espaço suficiente, o tambaqui adquire peso
e tamanho ideais para comercialização. Regulamente, a técnica em recursos
pesqueiros, Sara Xavier, visita os produtores, fazendo o acompanhamento da
criação.
Seu
Antonio fornece o alimento aos peixes, à base de ração balanceada, três vezes
ao dia. Por semana são necessários 03 quilos de ração. Quanto à atividade, o
comunitário está muito confiante. Para capturar o peixe usado na alimentação de
sua família, composto pela mulher e por onze filhos, seu Antonio precisa ir às
margens do rio Amazonas, que fica distante da região, e passar horas pescando.
Com a criação, que em breve estará pronta para ser comercializada, o
comunitário vai aproveitar uma boa parte para alimentar a família.
Ameaça – mas a criação de
peixe em gaiola em algumas comunidades da região de Juruti Velho está ameaçada.
A elevação da temperatura, a sujeira e a quantidade de óleo diesel que escapa
das embarcações, principalmente das rabetas, estão provocando a morte dos peixes.
Uma análise feita
pelo laboratório do Instituto Federal do Amazonas, em Parintins, constatou que
o óleo diesel tem grande parcela de contribuição.
A fim de evitar esses tipos
de problemas, a Associação das Comunidades da Região de Juruti Velho chama a
atenção dos comunitários para que sejam tomadas medidas urgentes. Quanto ao
óleo diesel presente nas águas do lago, a orientação é para que os comunitários tomem todos os cuidados necessários para evitar o vazamento. Quanto à
sujeira, a comunidade tem recebido uma série de orientações para não jogar
resíduos sólidos no lago, pois grande parte desses resíduos leva até centenas
de anos para se decompor, representando uma séria ameaça ao meio ambiente.
(*) É professor e jornalista
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